Lenin Moreno

Lenin Moreno

“As Cúpulas Ibero-americanas nos deram um grande sentido de região”

Fotografía: EFE/José Jácome
Texto: Macarena Soto

Lenin Voltaire Moreno Garcés nasceu no dia 19 de março de 1953 em Nuevo Rocafuerte (Equador) a escassos quilômetros do vizinho Peru. Fundador, junto ao presidente Rafael Correa, do partido Aliança País, foi vice-presidente do Governo e hoje é o enviado especial das Nações Unidas para a deficiência e a acessibilidade.

Esta entrevista foi feita antes de que Lenin Moreno fosse elegido presidente do Governo de Equador

Lenin Moreno responde com calma. A precisão e a análise não faltam no discurso do enviado especial das Nações Unidas para as pessoas com deficiências, que foi vice-presidente do Equador e quem se faz ouvir novamente para suceder Rafael Correa perante o Governo.

Exigente com a maneira na que se relacionam os países do norte e do sul, tem certeza de que o maior desafio da comunidade Ibero-americana “é a unidade como bloco para negociar”, em um “mundo de blocos” onde a região é especialmente “importante” porque “não tem somente as raízes históricas”.

Temos “além disso, raízes da língua, raízes sociais, raízes culturais, inclusive nossas formas de alimentação são bastante parecidas”, exemplifica antes de apreciar que nos 22 países Ibero-americanos coincidimos em gostos musicais, que nascem de um intercâmbio de artistas da região.

“Gostamos da nossa música mutuamente, deve-se recordar que, inclusive as canções mais preciosas que, por exemplo a Espanha tem, as cidades da Espanha, foram escritas por um mexicano, o grande compositor Agustín Lara”, lembra este equatoriano de 63 anos nascido na cidade amazônica de Nuevo Rocafuerte.

Conhece seu país, detalhadamente, já que cresceu em uma família de mestres de escola, profissão, a do magistério, que também exerceu depois de se formar em Administração Pública pela Universidade Central do Equador.

Apesar do otimismo sobre “todos estes desafios que temos em conjunto e que deveriam levar-nos à unidade”, assinala que “devemos afrontá-los não somente com visão de passado” senão também “com visão de presente e de futuro”.

“No presente é, sem dúvida alguma, onde temos que encontrar canais para que os elementos comuns comecem a convergir de melhor maneira”, opina para assinalar a cultura, os jovens ou as pessoas com deficiências, as mulheres ou os povos ancestrais como os assuntos sobre os quais concentrar forças.

Ao seu parecer, “temos tanto e tanto a dizer, tanto e tanto a contar, tanto e tanto a ver” como comunidade, da que é própria “uma riqueza paisagística preciosa” assim como “uma riqueza cultural também maravilhosa” e “uma riqueza arquitetônica extraordinária e diversa”.

“É essa diversidade a que lhe dá esse sabor, esse preciosismo. Viria a nos causar pavor imaginarmos um mundo, um universo completamente plano, no que tudo seja absolutamente igual; seria impossível, seria intratável de vivê-lo um só dia; é precisamente nossa diversidade de etnias, de formas de expressão do idioma” o que confere valor.

Fundador, junto ao presidente Correa, do partido Alianza País com o que foi eleito duas vezes vice-presidente (2007-2009 e 2009-2013), sofreu um assalto a queima-roupa que provocou-lhe a perda da mobilidade de ambas as pernas, algo que mudaria sua vida pessoal, mas também seus objetivos políticos.

Desde então, converteu-se em um símbolo da luta pela igualdade para as pessoas com deficiências, fato que provocou que fosse candidato ao Prêmio Nobel da Paz em 2012 e que o secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, o designasse enviado especial para a defesa destas pessoas.

“Uma vez, um jornalista disse-me que as pessoas com deficiência em nosso período haviam recuperado a dignidade. Eu lhe disse que não é assim, que não são as pessoas com deficiência as que haviam recuperado a dignidade, é uma sociedade miserável que permanentemente os excluiu, que permanentemente os invisibilizou, e que havia recuperado a dignidade”, reivindica.

Segundo conta, as pessoas com deficiências “permaneceram estoicas, sofrendo muito sem dúvida alguma, mas esperando que em algum momento fosse feita justiça com relação aos seus direitos”.

“Na América  Latina há muito por fazer. No Equador avançamos bastante, mas ainda há um trecho por recorrer muito grande”, adverte desde Genebra onde cumpre com sua função como enviado especial das Nações Unidas.

Define o mandato que recebeu da ONU como “um norte, uma guia a seguir, no que deve ser feito com relação aos direitos das pessoas com deficiências” e lembra que no Equador já o fizeram com o programa conhecido como Missão Manuela Espejo.

Dita missão, conta Moreno, dotou-os “de acessibilidade, das ajudas técnicas para que possam melhorar sua acessibilidade, de acesso ao trabalho” e explica que no Equador “todas as empresas devem ter pelo menos 4 por cento de seu quadro de empregados com pessoas deficientes”.

“Agora estamos conseguindo o pleno emprego das pessoas com deficiências. O que é importante para que possam ganhar um salário digno, que possam levar também aos seus lares, para que suas famílias possam viver de maneira digna”, se orgulha.

Lembra que o projeto é conhecido “por todas as organizações da Ibero-América” e conta que “mais de uma, muitas, muitíssimas, dezenas” pediram-lhes que colaborassem com elas, “como deve ser entre países irmãos”.

Assim, as políticas se replicaram no Uruguai, em Honduras, no Chile, na Argentina, no Brasil, na Espanha ou na Bolívia, entre outros países da região enquanto também houve Estados que ofereceram sua ajuda como Cuba “que proporcionou muitos médicos para poder levar a Missão Manuela Espejo ao México”.

“O objetivo é também estar unidos nisso. Que todos os países da Ibero-América terminem por firmar a Convenção, por ratificá-la, mas principalmente, por fazer que em sua legislação estejam as leis que são requeridas para que as pessoas com deficiências possam cumprir seus direitos”, demanda.

E dentro das reivindicações, que nunca deixa de lado, destaca as “políticas públicas de benefício à acessibilidade, de benefício aos direitos das pessoas com deficiências” que é, segundo sublinha, “o futuro que esperamos muito em breve”.